Análise do módulo Multitimbral MU 80

Análise do módulo Multitimbral MU 80

Introdução:

Parece que foi ontem, só haviam sintetizadores analógicos monofônicos que nem possuíam microprocessador embutido. Obter, por exemplo, um bom som de piano, era tarefa impossível. O piano elétrico veio em boa hora, mas quebrava as hastes, desafinava e gastava as borrachas da marteleira muito facilmente.

Quanto mais sons se desejava ter, mais teclados tinha-se que adquirir. Se por um lado era interessante de se ver o tecladista circundado por um número imenso de teclados, por outro, dava dó, só de imaginar a ginástica necessária para se acessar todos os timbres. Por experiência própria, posso afirmar que muitas vezes deixei de viajar na música, preocupado em alcançar a nota correta no sétimo teclado do meu antigo setup, que ficava atrás do meu teclado principal que na época era um órgão Hammond.

A quantidade de sons disponíveis era considerável, só que havia um inconveniente: para modificar os timbres, só em tempo real. Para se construir um patch que soasse piano Fender + strings + baixo moog + celeste, no mínimos eu teria que pedir para a banda parar de tocar e me emprestar algumas mãos, pois com duas, era impossível.

Naquela época, eu sonhava alto e profetizava: “em duas décadas virão instrumentos do tamanho de um livro; não precisarão de teclado próprio, e todas as funções serão memorizadas”.
Hoje em dia, ao ver estas “caixinhas” de General MIDI, chego à conclusão que estava certo, só que minha fantasia estava aquém da realidade.

O MU80 da Yamaha oferece quase tudo que um tecladista MIDI necessita atualmente: multitimbralidade, resposta de dinâmica excelente, grande variedade de sons, efeitos embutidos, portabilidade, etc. E para a área de multimídia, pode ser considerado o módulo top-line do momento.

 

Análise geral:

O MU80 é um módulo Tone Generator, compacto, portátil e fácil de usar. Apresenta compatibilidade total com as especificações de General MIDI Nível 1, tendo 128 voices e 9 kits de bateria. Em sua arquitetura foi introduzida o novo modo XG-MIDI (Extended General MIDI), proporcionando um total de 537 Voices e 11 kits de bateria. A polifonia é de 64 vozes em 32-Part Multitimbral. Cada Part tem seu próprio Voice, assim, até 32 Voices podem soar simultaneamente. Possui duas entradas de MIDI, fazendo com que 16 Parts possam ser tocados em cada uma.
No modo Performance (o mais aconselhado para shows e gravações sem sequenciador), acessa-se até 4 Parts ao mesmo tempo, com som sobre som (layer) ou divididos em regiões do teclado (split). Vem com 64 performances de fábrica mais 128 que podem ser programados.

Particularmente, não me agrada a nomenclatura adotada pela Yamaha, e muitos tecladistas concordam que o termo “Voice” quer dizer número de vozes (notas simultâneas) que o instrumento pode suportar.

Nos intrumentos Yamaha em geral, Part significa instrumentos, Voice refere-se à programa ou tone, e Performance é o mesmo que patch.

Sem dúvida, a principal aplicação deste módulo é em multimídia. Neste sentido, a Yamaha não mediu esforços para produzir um instrumento de conceito revolucionário, conservando compatibilidade com as especificações de GM (General MIDI), e foi mais além, propondo a utilização de bancos para acessar mais voices. General MIDI é o standard criado para localização de voices (programas), e numeração de peças da bateria dos arquivos .MID. Músicas compostas em um determinado sequenciador, poderão ser executadas em outro, respondendo com as mesmas características do arranjo original.

Além dos conectores de MIDI (dois in, um out e um thru), o MU80 possui terminal para ligação direta com o microcomputador, dispensando o uso de placas adicionais.

 

Comentários:

Ao ser ligado ou desligado não produz ruídos que possam danificar o sistema de amplificação, como se observa em diversos equipamentos atualmente. Possui sons cristalinos e não percebe-se nenhum chiado de fundo, em níveis normais de audibilidade. O microprocessador interno guarda as últimas funções e o programa utilizado antes de ser desligado.

Os micro botões da seção Play/Edit são iluminados, o que a princípio parece redundância, mas facilita a localização rápida de determinadas funções de extrema importância.

O painel é bem amigável, e monstra as seguintes funções do módulo: Part, entrada de MIDI (A ou B), canal de MIDI, Banco/Programa, volume, expressão, pan, mandada de efeitos e afinação. Cada uma destas regulagens funciona para cada Part em particular. Mais à direita, seleciona-se o modo de operação que se deseja operar: XG, TG300b, C/M, Perform.

 

Especificações de fábrica:

Tone generation method – AWM2 (Advanced Wave Memory 2)
Maximum polyphony – 64 notes
Multitimbral capacity – 32 Part em 32 canais de MIDI, com prioridade para as últimas notas executadas e alocação dinâmica de vozes.
Total Internal voices – 729
Drum programs – 21 (nos diversos modos)
Performance programs – preset 64×2, user 128. Até 4 voices e regulagens de efeitos podem ser memorizados em um performance.
Effects: Cinco seções de efeitos múltiplos: reverb (12 tipos), chorus (10 tipos), variation (44 tipos), distortion (3 tipos), e equalizer (4 tipos).
Display Custom back-lit LCD
Usa transformador pequeno para alimentação (adaptador de AC)
Tamanho: 220 x 210 x 44mm
Peso: 1.3Kg

 

A demo:

A música de demonstração do MU80, de estilo funk-fusion com final de influência afro, não chega a impressionar. Enquanto o módulo toca, os VUs do painel monitoram os volumes de cada um dos 32 parts, e um gráfico de uma pauta musical apresenta notinhas saltando enquanto o símbolo de pan roda de um lado para o outro. Muito me lembrou os trios elétricos da Bahia, com seus shows de luzes.1

A demo é uma das partes mais importantes de um instrumento: em três ou quatro minutos o iniciante ou mesmo o profissional pode decidir se o instrumento é ou não exatamente o que necessita. As peças da bateria estão bem distribuídas no estéreo, mas no geral, a mixagem deixa muito a desejar, e a caixa está muito alta, chamando mais atenção do que os instrumentos solistas. O reverber, de ótima qualidade, é utilizado além da medida do bom gosto, “empastelando” o arranjo em determinadas passagens. O piano foi executado com pouca dinâmica e nota-se também o famoso “pastel de MIDI” quando muitos instrumentos são executados simultaneamente na mesma região de freqüência.

Para executar a demo (música “Out of the Muse”) pressiona-se o botão Select até o cursor alcançar a função Demo. Em seguida pressiona-se Enter.

 

Tocando o MU80 via teclado MIDI:

Ligando-se a saída de MIDI de um teclado à entrada A do módulo, acessa-se todos os voices de forma instantânea. Não é necessária maiores configurações. O medidor do painel é extremamente eficiente, pois mostra logo de saída se o módulo está recebendo mensagens, e em que canal o teclado está transmitindo. Muito interessante é o fato do meter monitorar o nível de velocity, e não o de audibilidade propriamente dito. Este procedimento facilita muito a escolha da curva de velocity ideal em que o teclado master deve transmitir para se obter o máximo de presença do MU80. Por intermédio de outro processo, pode-se também regular o velocity no próprio módulo, como será detalhado mais adiante. Quando se deseja atingir um canal de MIDI específico, deve-se selecioná-lo no teclado. O número imediatamente abaixo do medidor de nível indica qual part está sendo utilizado.

 

Análise dos voices (programas) principais:

Considero voices principais, aqueles mais utilizados em arranjos de base e coberturas de música pop: pianos, baixos, baterias, cordas e sopros.

No MU80, basta, selecionar o part 1, com os botões Part – e +. Em seguida, com os botões Select < e >, move-se o cursor até o lado direito do ícone de instrumento.

O botão + adianta, e o – atraza um voice. Pressionando-se initerruptamente um dos botões, os voices adiantam ou atrasam seguidamente. Quando se deseja mudar, por exemplo, do voice 001 para o 128, é necessário pressionar o botão + até chegar no número 128. Para retornar ao 001 deve-se pressionar o – até alcançá-lo. Esta operação é demasiadamente demorada, e solução é mudar os voices a partir do teclado (quando disponível), dando entrada direta dos números. Neste caso, dependendo do fabricante e modelo, o número selecionado poderá ou não coincidir com o do MU80. A base numérica de troca de programa do Alesis Quadrasynt, que uso atualmente como teclado master, é 000 enquanto a do MU80 é 001, ou seja, os programas do Quadrasynth estão dispostos entre 000 e 127, e os do MU80 vão de 001 a 128. Comummente, resolvo este tipo de problema utilizando o programa de sequenciamento Cakewalk, como intermediário, onde aviso qual é a base numérica do módulo que está conectado em um determinado canal de MIDI.

Para cada modalidade de instrumento musical, há um ícone (representação gráfica).

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