Piano Computadorizado Bösendorfer 275 SE

Piano Computadorizado Bösendorfer 275 SE

Que instrumentos acústicos podem ter som e efeitos de expressão simulados eletronicamente sabemos todos. O sampler está aí para mostrar, embora exija memória e resolução colossais para reproduzir perfeitamente um som determinado. Mas o que poucos sabem é que, apesar dos milhões de dólares investidos anualmente para tanto, há um instrumento que até agora não se conseguiu imitar – o piano.

Há simulações razoáveis. Mas a singularidade acústica da sonoridade do piano exige propriedades físicas que os simuladores não possuem. Não tem jeito: piano, só piano. Mas se não foi ainda imitado, deu-se ao menos ao imponente instrumento a capacidade de se comunicar com outros teclados e computadores, através da Musical Instrument Digital Interface, a placa MIDI. E com a chegada ao Brasil do piano computadorizado Bösendorfer, constatei afinal que meu instrumento favorito ingressou na era MIDI.

O piano continua um piano. Mas a ele foram adaptados sensores óticos: um “vê” quando o martelo percute a corda, enquanto outro, sob a tecla, registra o momento em que ela foi pressionada. E sensores nos pedais registram até 256 posições. As informações são enviadas à Control Box, uma unidade separada que abriga a CPU e interfaces MIDI e serial, conectada a um microcomputador.

O sistema desenvolvido por Waine Stahnke, um engenheiro espacial americano, foi adotado em 2985 pela Bösendorfer Klavierfabrik de Viena, e permite que os dados de execução de uma música sejam arquivados, tornando possível editar notas, durações, andamentos e nuanças de expressão.

E que torna o piano capaz de tocar sozinho: os dados arquivados podem ser retransmitidos à Control Box, que os envia ao piano. Nele foram adaptados “dedos” e “pés” mecânicos movidos por solenóides. Cada tecla e pedal tem seu “dedo” ou “pé” que os aciona internamente repetindo exatamente o que ocorreu na gravação.

A sistema foi demonstrado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, por Marcos Dessaune, que representa a Bösendorfer no Brasil. O pianista Edson Frederico gravou uma peça no sistema, que foi depois reproduzida enquanto, em outro piano, ele fazia um dueto consigo mesmo! Depois, Roberto Fuchs executou várias peças a quatro mãos: todas as quatro dele mesmo…

As performances empolgaram a platéia na qual, para minha surpresa, era eu o único tecladista de música popular presente.

No dia seguinte, lá estava eu de volta ao MAM. Agora, acompanhado por um 386 portátil com software e interface de música. E enfim pude tocar e gravar naquela maravilha. A reprodução é perfeita. E as músicas originalmente sequenciadas em meu micro foram também perfeitamente executadas, exceto em termos de dinâmica, ou a força aplicada pelos dedos – que podem ser registrados no sistema MIDI em apenas 127 níveis, enquanto o piano registra em 1018 intensidades.

Com isso, notas gravadas em pianíssimo no meu teclado quase não eram ouvidas, enquanto outras repentinamente soavam fortíssimo.

Mas isso pode ser corrigido com um programa de conversão de dinâmica SE para MIDI, que já vem configurado no sistema. Usando a entrada MIDI da Control Box percebi um atraso de meio segundo na execução automática do piano – o que depois confirmei lendo o manual. Se você estiver apenas interessado em gravações de piano isso não é significativo. Não se esqueça de adiantar em meio segundo outros instrumentos pré-sequenciados. O que é possível, pois o padrão Bösendorfer permite a conversão de arquivos de música gravados com qualquer sequencer ou micro em formato midifile 0 e 1.

Uma beleza. Mas há que trabalhar muito: um piano computadorizado Bösendorfer 275 SE custa apenas a bagatela de 130 mil dólares…

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